De acordo com a minha percepção do que é Barcelona, diria que meu novo bairro, La Verneda i la Pau, não parece Barcelona. Quer dizer, não se parece com o Eixample e definitivamente não tem nada a ver com Gràcia, nem com o Gótico, nem com o Born e muito menos com o Raval ou a Barceloneta. As calçadas e ruas são largas, não tem prédios antigos, não tem a palavra tapas escrita em cada fachada, não tem um brunch em cada esquina, não tem turistas com malas, não tem turistas com malas fazendo filas nos brunchs em cada esquina. Inclusive me lembra um pouco a parte mais humilde de Belgrano antes da gentrificação, quando a gente tinha que ir até Palermo para beber um Gin Tonic. Isso quer dizer que talvez eu precise ir a outro bairro para beber um Gin Tonic? É bastante provável, não vou mentir.
Como não é uma zona histórica, alguns prédios são um pouco mais altos, isto é, o meu prédio é um pouco mais alto, o que me permite ter uma bela vista do distrito de Sant Andreu e da região montanhosa de Barcelona, além de ter luz natural o dia inteiro. O-dia-inteiro.
Sinto um pouco a falta daquele rebuliço? Nah. De estar a 5 minutos de absolutamente tudo? Disso sim. E de caminhar pela rua Concell de Cent. Mas sabe do que eu não sinto falta? De não saber se tem sol ou se está nublado. De escutar a novela chinesa da vizinha de baixo às onze e meia da noite. Ou da sua descarga sendo acionada setenta vezes por dia. Do cheiro de bacon frito entrando pela minha janela às 10 da manhã. E de esse ser justamente o cheiro menos horrível que entrava por ali. De ser constantemente quase atropelada por manadas de turistas vestidos iguais e com o mesmo corte de cabelo voltando do supermercado. De ter que desviar das instagrammers todo santo dia a caminho da minha ex-academia porque elas pre-ci-sam tirar foto na fachada de flores artificiais do Brunch It.
Estou experimentando um pouco de normalidade. Paz. Tranquilidade. Ambiente familiar. Idosos. Idosos que caem no meio da rua (mais Belgrano impossível). Apenas os dois idiomas oficiais da região sendo falados nas ruas. Muitas pracinhas. Parquinhos infantis completamente vazios porque já quase não existem mais crianças. Poucas opções de lugares interessantes para ir. Sim, porque toda pessoa adulta a essa altura já sabe que ter a possibilidade de escolher entre muitas alternativas está supervalorizado. E se um dia eu quiser outra coisa… bom, são só seis estações de metrô.
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