quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Nunca fiz amigos bebendo leite

Versión en español.

Apesar de não estar nem de longe tão ansiosa como no dia em que fui ao Meet Up de Language Exchange em abril, devo admitir que mandei para dentro uma tacinha de vinho branco antes de sair. Desta vez seria diferente. Eu não precisaria contar com a sorte de alguém querer se aproximar para falar comigo, nem de coragem para puxar conversa com um estranho. Desta vez não haveria outra opção. Seríamos obrigados a interagir. Eu estava praticamente indo para o Big Brother. 

Vi a publicidade do Timeleft enquanto procurava formas de fazer amizades em Barcelona. E a proposta me pareceu no mínimo curiosa. O negócio funciona assim: você se inscreve no aplicativo, paga o valor correspondente ao plano escolhido, responde a uma série de perguntas sobre sua personalidade, gostos e estilo de vida, e escolhe a data em que prefere jantar com cinco desconhecidos em um restaurante da cidade.  

O app se encarrega de fazer o match com outros inscritos, reserva a mesa no restaurante e tudo o que você precisa fazer é ir ao local combinado na hora marcada, perguntar pela sua mesa do Timeleft e voilà!, seus novos amigos estarão lá te esperando. Ou não, caso você seja o primeiro a chegar.  

Um dia antes do jantar, o app te manda informações básicas sobre seus futuros amigos: seus países de origem, signo, o setor em que trabalham e qual será o idioma principal falado naquela noite. E só.  

No meu caso, não seríamos seis pessoas no total, e sim sete. E o idioma principal seria o inglês, algo opcional ao configurar a conta. Decidi marcar inglês e espanhol com o singelo objetivo de aumentar minhas chances de conhecer alguém oriundo do canto mais remoto do planeta e, ao mesmo tempo, contar com a sorte de ter alguém da Argentina na mesa. Pois dito e feito. Meus futuros amigos eram da Espanha, Equador, Itália, Rússia, Islândia e, claro, Argentina.  

Cheguei ao restaurante às 21 em ponto.  

–  ¿Hola? Hi? –  é o primeiro que sai da minha boca enquanto encaro uma das meninas do grupo.  

–  ¿Español? –  ela me pergunta.  

–  ¡Sí! –  respondo, com o entusiasmo de uma adolescente no primeiro dia do ensino médio.  

A moça em questão se trava de Sofía que, para minha surpresa, era justamente a parcela argentina da mesa. Não porque ela não parecesse argentina, mas porque o mínimo que eu esperava de uma compatriota argentina era que ela chegasse 20 minutos atrasada. Quem fez isso, no entanto, foi Jon, o islandês. Não se fazem mais estereótipos como antigamente.  

O restante da mesa estava composto por Charo, do sul da Espanha, Fabio, o italiano que prefere falar inglês que espanhol, Sebastián, o equatoriano que sabe tudo o que tem para fazer em Barcelona, e Anna, a russa, culpada do idioma principal do jantar ser o inglês. E, claro, eu. A brasileira que fala argentino.  

Temos personalidades parecidas? Gostamos de ir aos mesmos lugares, fazer as mesmas coisas e ouvir a mesma música? Evidente que não. Mas gostamos de entornar o caneco e, para mim, é suficiente. Inclusive, dois dias depois, quatro de nós nos encontramos novamente em um bar de Gràcia.  


E esta é a foto do nosso grupo de WhatsApp:


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