quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Alguém para me ouvir reclamar

Leer versión en español.


Comecei a fazer terapia. É segunda vez que isto ocorre em minha vida. Isso, claro, se a gente desconsiderar aquela ocasião em que eu tinha 19 anos e fui a uma única sessão onde passei 40 minutos chorando na frente da mulher e nunca mais voltei. Agora, quando penso melhor na conjuntura do momento, acredito que era caso para clonazepam, bromazepam e quiçá internação, ainda que eu não tenha acudido a nenhuma dessas alternativas e sequer me lembre como me livrei daquela… hem… situação. 

Mas voltando à conjuntura atual, estou frequentando o consultório de uma psicóloga há pouco mais de um mês. Escolhi a profissional por indicação de um conhecido ou por comentários positivos que ouvi/li a respeito dela? Evidente que não. Cheguei à minha terapeuta depois de ter entrado em contato com oito profissionais do meu plano de saúde que atendiam perto da minha casa. Ela foi a primeira que aceitou agendar um horário. Não havia nenhuma possibilidade de eu pagar a consulta completa com uma profissional renomada e nem de me deslocar mais de seis quadras para ser atendida por outra profissional renomada, portanto, ela foi a escolhida. Ou a designada pelas circunstâncias da vida. 

Trata-se de uma excelente profissional? Hmmm. Difícil dizer. Ela não conhece muitos termos que os jovens de hoje usam, tipo “responsabilidade emocional” (será que isso só existe no Twitter?) e às vezes não entende ao que eu me refiro. Mas talvez o problema seja eu mesma. Desculpa se eu não me sinto confortável dizendo com todas as letras que sou uma completa inútil em conexões humanas! Achei que era parte do trabalho dela descifrar essas pequenas vicissitudes escondidas nas entrelinhas. 

Tem também outra coisa, digamos, curiosa. Ela está sempre desesperada pelo seu honorário. Não sei exatamente que porcentagem da sessão tenho que pagar do meu próprio bolso, mas admito que é um valor bastante irrisório. E mesmo assim ela sempre faz questão de pedir o dinheiro imediatamente no mesmíssimo milésimo de segundo em que termina de dizer “continuamos na semana que vem”. Nas últimas vezes ela inclusive inovou e pediu o pagamento antes mesmo de começar, porque, segundo ela, um rapaz recentemente esqueceu de pagar. Algo pouco provável, uma vez que, ao menos no meu caso, ela jamais permitiu a mais remota possibilidade de isso acontecer. Talvez ela acredite que meu caso envolva comportamentos duvidosos, como sair correndo porta afora. Não sei. Em todo caso, não seria possível, já que ela precisa abrir a porta do edifício para eu sair. Ou talvez ela esteja sempre com fome (minha a sessão é às 12h) e conta com esse dinheiro para comprar um súper pancho no quiosco ao lado do edifício. Para outra coisa não alcançaria.

Enfim. Acho que ainda é cedo para conclusões mais sólidas. Veremos. Difícil mesmo neste momento seria viver na Argentina sendo uma não-argentina sem poder pagar que alguém ouça minhas frustrações semanalmente.

3 comentários:

  1. Terapia é um dos melhores investimentos que um homo sapiens pode fazer. Sabe que o primeiro lugar onde os analistas europeus vieram na america do sul fugindo de perseguições devido, principalmente, à segunda guerra foi a Argentina. Talvez isso explique a quantidade e qualidade de psicólogos/analistas no país. Essa de pagar antecipadamente é brochante mesmo, poderia combinar uma periodicidade de pagamento e não ficar cobrando a toda hora né hehe.
    É 1 vez por semana? Daqui umas 8 sessões diga o que está achando, por favor :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não sabia dessa, mas faz sentido, realmente tem MUITO psicólogo aqui. Outra coisa curiosa: eu moro numa parte do bairro de Palermo conhecida como "Villa Freud", porque a partir de 1960 começaram a se instalar por aqui vários consultórios de psicologia. Então apesar de ter sido meio difícil achar uma perto de casa que quisesse atender pelo meu plano de saúde, tinha ainda várias opções pra tentar :D (Sim, é uma vez por semana!)

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir