quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Um pouco argentina, um pouco Taylor Swift e um tanto confusa

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Passei o Natal com a minha família no Brasil. A última vez que isso aconteceu foi em 2018, quando decidi ir sozinha. Dessa vez levei o Javier para ele ver que era tudo verdade. Que começamos a beber às sete da noite, que trocamos presentes antes de jantar, que depois de comer dançamos na sala e um pouco antes da meia-noite já foi todo mundo dormir. O Natal da minha família termina antes de começar. Ele me pergunta se é um hábito brasileiro e eu respondo que tenho quase certeza que não, é coisa da minha família mesmo.

Cada vez que eu vou para o Brasil eu me sinto um pouco menos brasileira. Não porque tudo é ruim, mas porque tudo é muito diferente. Ainda que muitas coisas sejam ruins mesmo. Mas eu sei que Balneário Camboriú não é parâmetro para nada e que a metade do Brasil quer que a cidade afunde, mas eu espero que não, porque nesse caso eu ficaria órfã.

A verdade é que me custa cada vez mais trocar minha personalidade argentina pela brasileira. Eu misturo cada vez mais os idiomas e traduzo expressões transformando-as em coisas que não existem. 

Em Balneário Camboriú tem música ao vivo em todo lugar. Qualquer restaurante com duas mesas ocupadas tem um rapaz no canto tocando Armandinho com um violão. Não tem isso em Buenos Aires. Também não tem hômi acelerando carro que vale mais que uma casa de cinco cômodos, fazendo aquele barulho insuportável. Um dia a gente estava almoçando na sacada do apartamento dos meus pais, no 11° andar, e escutamos um desses. “Lá também se escuta tão forte?”, minha mãe perguntou. Parei um segundo para pensar, moramos no 4° andar e não, não escutamos. Porque esse barulho praticamente não existe por aqui. Talvez as cirurgias de aumento de pênis realmente funcionem na capital porteña e eles não precisem tanto disso. Fica a dica, o câmbio continua favorável.  

As pessoas que te atendem em qualquer empreendimento são simpáticas no Brasil. Do rapaz do guarda-volumes da rodoviária de Florianópolis até o bolsominion dono do bar de açaí da Avenida Brasil. Eu sei que sempre foi assim, mas como essa era a regra quando eu ainda morava no país, achava normal. Agora eu acho normal pedir por favor para que me atendam, por favor para que me deixem sentar em uma daquelas três mesas vazias e sem reserva que eu estou vendo daqui. Estou acostumada a pedir desculpas porque meu pedido veio errado e eu gostaria do correto ou porque eu passei o cartão SUBE um segundo antes do momento indicado ao entrar no ônibus (nessas horas também costumo rezar para o motorista não me bater). 

Eu vi a final da Copa do Mundo no Brasil e, ainda que eu odeie futebol, no segundo tempo gritei que nem o véio torcedor do River, quase tive um ataque cardíaco, lembrei por que odeio futebol e depois fui para a avenida Central com a Atlântica festejar com os argentinos, quase sem voz. No quarto dia já estava com saudade de uma boa milanesa de ternera e na véspera de Natal queria mesmo era um pionono navideño para acompanhar o peru. 

No ano novo, já na minha cidade (Buenos Aires, no caso) ao saberem de toda minha dedicação à seleção argentina na final da Copa, recebi a cidadania honorária dos meus amigos. Que inclusive me permitiram sair por aí dizendo que tenho oito Copas do Mundo. 

O ano novo teve quase tudo o que se espera de um ano novo em Buenos Aires: queda de luz, cidra 1888, picada farta, com direito a jamón crudo, sanguchito de miga e empanadas fritas, Miranda! na playlist e muitos excessos. Só faltou o tradicional calor que te faz suar até no meio dos dedos.

Lá pelas tantas, a irmã de 21 anos da dona da casa disse que eu estava parecida com a Taylor Swift. E que uma solução para os meus braços gordos poderia ser começar a me amar como eu sou.  


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