miércoles, 8 de junio de 2022

Por que eu continuo escolhendo Buenos Aires

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Outono na Avenida Santa Fe

Em maio fez sete anos que decidi deixar o pouco que tinha no Brasil e vir para Buenos Aires. Desde então, venho pensando na loucura que é continuar aqui por tanto tempo.

A história é velha, conhecida e repetitiva: vim passar seis meses e a coisa acabou se estendendo. Bastante, digamos. Muita gente entende por que eu escolhi Buenos Aires, inclusive muitos brasileiros vêm todos os anos com a mesma ideia. E se você já esteve aqui ao menos uma vez, provavelmente também teve uma pontinha de vontade de não voltar para casa. O que poucos entendem, no entanto, é por que eu continuo escolhendo Buenos Aires, sete anos depois de ter chegado.


A questão é que, se por um lado eu ainda me impressiono, amo e comparo muitos aspectos daqui com o Brasil, ao mesmo tempo também sinto que já me argentinizei. Isso significa não apenas que me acomodei de modo definitivo neste espaço geográfico, como também que praticamente não conheço outra maneira de viver a vida adulta que não seja na Argentina. 


Todo mundo fala da inflação, da crise, da pobreza, do desemprego, e muito do que dizem realmente é verdade, mas eu quase não conheço outra realidade, outro sistema. Quando vim para Buenos Aires fazia menos de três anos que eu tinha saído da casa dos meus pais, que trabalhava em período integral e pagava as minhas contas. Aqui já são mais de seis fazendo isso. Quando um modo de viver é praticamente o único que você conhece, mesmo sabendo que existem outros, você simplesmente vive ele, naturalmente.


Mas é óbvio que não continuo escolhendo Buenos Aires somente por estar cômoda. As coisas que eu gostava nos meus primeiros meses aqui continuam tendo o mesmo efeito em mim. E, na verdade, depois de muitos anos morando em Buenos Aires você descobre que ela nunca é igual a ontem e que mesmo que você viva 70 anos aqui, ainda não vai ter conhecido todas as coisas fascinantes que a cidade tem. 


Ela se renova todos os dias. As pessoas vão e vem, assim como os bares, os cafés e os restaurantes. As praças mudam de cor. As feiras mudam de lugar, os teatros mudam de espetáculos. O verão vai embora e leva o colorido, o outono chega e traz uma luz totalmente diferente, uma nova maneira de desfrutar os espaços.


Um ano a moda são as cervejarias artesanais, no outro as lojas de donuts, depois os cafés de especialidade, os chás asiáticos e os bares de vinho. E mesmo que um dê lugar a outro, Buenos Aires também tem muitos daqueles bons e velhos que sobrevivem a todas as crises, todos os governos, todas as pandemias e conservam décadas de história, servindo sempre a mesma receita de medialunas, com aquele sabor que você lembrava da primeira vez que foi.


Se a vida consiste em nos distrairmos até que tudo termine sem nenhuma razão de ser, então eu acho que Buenos Aires me traz mais distrações do que o Brasil me trazia. A Europa não podia trazer mais?, às vezes eu penso. Pode ser que sim, não sei, não estou lá para saber. Talvez um dia, quando eu sinta que Buenos Aires já não é mais suficiente.


Só que uma coisa é certa: nesses sete anos eu não perdi nem um minuto da minha vida. Nada foi desperdiçado e tudo o que eu vivi serviu e vai continuar servindo se ou quando eu decidir que quero acordar todos os dias sob o sol de outro lugar.



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