quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Carta a Cristoph Lunkes

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Prezado Cristoph, apesar de termos o mesmo sobrenome, você não me conhece. Escrevo isto do futuro. Do ano 2020. Sim, o mundo ainda existe. Sou brasileira, bisneta do seu bisneto João Sebastião. Calma, nenhum de nós dois está louco ainda.

Como estou no futuro, conheço seus planos. Minha ideia não é te impedir de fazer nada, veja bem. Mas um alerta não cairia mal. Eu sei que você planeja migrar ao Brasil, sei que a situação aí está complicada, mas te digo uma coisa: já se passaram 160 anos da sua decisão e a situação no país onde você planeja recomeçar a vida depois da morte da sua esposa Elisabetha não tem qualquer perspectiva de melhora. Somos um desastre social, humano, econômico e civilizatório. 

Por outro lado, Luxemburgo tem um dos melhores IDH do mundo, junto com a Alemanha, onde nasceu Johann, o avô do meu bisavô. Eu sei, é estranho. Levei meses para memorizar os nomes de todos.

Mas olha, não quero te convencer de nada. Mesmo porque se você decidir ficar aí eu provavelmente não nasça. Ou talvez sim? Talvez um pouco mais alta, sem hipotiroidismo e com uma boa herança a desfrutar. Brincadeira! Mas já que toquei no assunto: ainda somos pobres. Quer dizer, hoje em dia somos centenas de Lunkes espalhados pelo Brasil, então não posso afirmar se todos são pobres, mas posso garantir que nunca se tornou um sobrenome célebre. Nenhum Lunkes é dono de um banco, de uma petroleira ou de um conglomerado de empresas. Nunca aparecemos em nenhuma lista da Forbes - uma revista de economia que destaca gente que obteve muito sucesso profissional ou muita herança. 

Eu não moro mais no Brasil desde 2015. Estou em um país chamado Argentina, que fica ao lado do Brasil e enfrenta uma crise econômica há décadas. Engraçado, né? Estou aqui te alertando sobre deixar seu país para ir ao Brasil quando eu mesma poderia ter ido para Europa em vez de continuar na América Latina, esse continente que não tem conserto.

Deixa eu te contar rapidamente. O mundo passou por muitas coisas nos últimos 160 anos, incluindo duas grandes guerras que envolverom diretamente a região onde você vive agora. Na segunda delas, que durou seis anos e terminou em 1945, o partido nazista alemão, comandado por um tirano nefasto, matou milhões de judeus e pessoas que ele considerava indesejáveis. Não entrarei em detalhes, mas apesar desse capítulo trágico da história mundial, muitos anos depois as coisas foram melhorando para a Europa e hoje muitos latinos sonham em ir morar aí e nunca mais voltar. Muitos foram, inclusive. Muitos retornaram às origens dos seus antepassados.

Eu, no entanto, ainda estou aqui. Descobri recém ano passado que eu tinha origem Luxemburguesa, toda minha vida pensei que tudo havia começado na Alemanha. E ao descobrir sobre você, também descobri que poderia conseguir a cidadania do seu país. Não é incrível? Ela ainda não chegou e nem sei quando vai chegar, por tanto ainda não tenho planos concretos de ir para aí, mas se eu for, prometo que vou conhecer sua cidade, Beaufort, e se possível também Bollendorf, onde nasceram Johann e Elisabetha.

Não me estenderei mais e, como mencionei anteriormente, esta carta não é uma tentativa de te convencer a ficar aí. Mas talvez, sei lá, abrir um banco não seria uma má ideia. Talvez fosse o caso de conversar com Johann ou Henrique. Fica a dica.

Abraço. 



Ah, sim. Existe um livro da Familia Lunkes e encontrei essa foto nele. Meu primo, meu tio, meu avô e meu bisavô.

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