viernes, 28 de febrero de 2020

Pela aposentadoria de Woody Allen

Woody Allen é um dos meus diretores favoritos desde que assisti Vicky Christina Barcelona, Match Point e Cassandra´s Dream, não sei exatamente quando foi isso, eu devia ter uns 19 anos. Fiquei obcecada, comecei a ver todos o filmes recentes (recentes naquela época) e depois resolvi partir do início de sua carreira, um por um, e quando estreou Midnight in Paris eu já tinha visto a filmografia quase completa. Assisti Midnight in Paris no cinema e aquilo para mim foi supra sumo do allenismo.

A essa altura, os únicos filmes que eu não tinha gostado tanto eram justamente os primeiros, mas eu entendia que era por uma questão de época. Woody era jovem, o mundo era outro, seu estilo era outro e os filmes não tinham sido feitos para agradar uma pós-adolescente de 20 anos em 2010. Nas décadas seguintes ele amadureceu e provou várias fórmulas que resultaram no que conhecemos atualmente. Essa fórmula funcionou por muito tempo, só que de repente o mundo começou a se transformar rápido, tão rápido que talvez ele esteja velho e cansado demais para acompanhar. Tipo nós, senhoras de 30, quando aparece uma nova banda indie na NME.

Depois de Midnight in Paris, Woody até se esforçou. Acertou algumas coisas, outras foram mero entretenimento, e enquanto isso eu seguia ansiosa por sua próxima grande obra. Mas ela não apenas nunca chegou, como em este momento, depois de ver A rainy day in New York, meu pensamento é um só: ele deveria parar fazer filmes. Deveria viver tranquilo seus últimos anos de vida, tocar seu clarinete, tomar chá com a Scarlet ou com a Diane. E isso não tem nada ver a com as acusações de abuso, nem pretendo entrar nesse tema.

É inacreditável que em 2019 Allen continue usando as mesmas fórmulas, diálogos e piadas que funcionavam há 40 anos. A impressão que eu tive é de que ele encontrou um roteiro de 1979 enquanto organizava sua biblioteca e decidiu filmá-lo na Nova York atual. Demorei uns 20 minutos para ter certeza de que não se passava naquela década.

 O papel de homem excêntrico, intelectual e neurótico, que ele mesmo costumava interpretar (“interpretar”) quando tinha idade para tal, ficou com Timothée Chalamet, e se chama Gatsby (sim). O de musa, mais boba do que nunca, ficou a cargo de Elle Fanning, a Ashleigh, namorada de Gatsby. Sinceramente, depois de tantos papéis interessantes me parece estranho ela ter aceitado interpretar algo tão tosco e caricato, mas entendo aquela magia de trabalhar com Woody Allen ao menos uma vez na vida. Se trata de uma jovem estudante de jornalismo do interior deslumbrada com Manhattan, e que apesar de ter namorado, está disposta a ir pra cama com um ator famoso 20 anos mais velho, que mente estar solteiro.

Tudo é raso no filme, os diálogos são tediosos e forçados, o roteiro não vai a lugar nenhum, e alguns personagens e cenas não tem a menor serventia na história. Que raios fazia Jude Law ali? O que soma ao filme a cena em que ele vê sua mulher entrando no hotel com outro homem? E e a conversa de Gatsby com o irmão que não quer se casar com a namorada porque odeia o jeito que ela ri?
Gatsby se veste como um senhor, é inteligente e toca piano e isso o torna uma pessoa “excêntrica”, o que até pode ter sentido, já que se você fizer uma rápida pesquisa sobre como são os jovens atualmente poderia pensar que todos eles têm tatuagens no rosto e se vestem com moletons XXL. Já o figurino de Ashleigh está composto por suéters tons pastel, porque aparentemente é assim que se vestem as meninas ingênuas do interior.

Por fim, tampouco entendi a presença de Selena Gomez, nunca tinha visto ela atuar, mas dos males o menor, ao menos seu personagem fazia algum sentido. O ponto positivo ficou para Nova York no fundo, claro. Alguns diálogos eram tão chatos que eu só conseguia prestar atenção no cenário mesmo.

2 comentarios:

  1. Annie Hall me traz boas recordações, roteiro bem interessante e divertido. Essa tua obsessão eu tive com Almodóvar alguns anos atrás e, nos últimos 5 anos, com o cinema argentino em geral. Sinto vergonha e pena de mim quando um dia eu achei que cinema argentino se resumia a Ricardo Darin.

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    1. Ai, eu também tive obsessão com Almodóvar! Mais ou menos na mesma época, um pouco depois, mas tem uns dois ou tres filmes que eu ainda não vi porque nunca encontrei :(
      Sobre cinema argentino, morando aqui eu vejo quase com a mesma frequencia que eu via filmes brasileiros no Brasil, bem pouco (mas um pouco mais, haha). Impressionante.

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