Quando minha mãe e minha irmã vieram me visitar, em outubro do ano passado, trouxeram alguns livros, como de costume (deve ser medo de eu desaprender português), e entre eles estava o da Gisele Bündchen. Foi presente de uma amiga para a minha mãe e ela disse que eu tinha-que-ler. Eu, que não posso ter fácil acesso à literatura tosca que já vou correndo consumi-la, obviamente li.
Não sabia nada a respeito, me interessei porque pensava se tratar de uma biografia, algo bastante estúpido de minha parte, já que o título entrega perfeitamente a proposta da obra. É um livro de autoajuda escrito por uma mulher muito rica, muito famosa, muito bonita, muito branca e que começou a conquistar tudo o que tem e a se transformar em tudo o que é quando tinha apenas 14 anos. Como raios isso pode autoajudar uma pessoa normal? Esta é a grande questão.
No livro, Gisele conta um pouco sobre sua infância em Horizontina e aí é onde termina minha identificação com a história. Eu nasci numa cidade um pouco maior, mas que fica a 50km de Horizontina e a maior parte da minha família vivia também em cidades muito pequenas nessa mesma região, onde a maioria é descendente de alemães. Então, apesar de ter só uma irmã (e não 27), acho que a nossa infância pode ter sido um pouco parecida. Além disso, quando eu tinha 14 anos fiz o mesmo curso de modelo que ela fez (9 anos antes) quando tinha essa mesmíssima idade, fizemos a mesma viagem a São Paulo e aí nossa vida começou a ser muito diferente.
Quando eu finalmente consegui comprar um notebook barato com meu próprio dinheiro, aos 22 anos, com a mesma idade ela já tinha comprado fazia tempo um apartamento pequeno em Tribeca, Manhattan, também com seu próprio dinheiro. Ela conta isso no livro. Deve ser para mostrar que com muita disciplina, pontualidade e força de vontade podemos chegar a comprar um apartamento em Tribeca. Taylor Swift também mora lá. Mas, para conseguir morar de frente para o rio Hudson em um apartamento muito maior e construir uma mansão de férias na Costa Rica é preciso mais que isso. É preciso cuidar da mente e do corpo e estar bem consigo mesma, com a sua espiritualidade. E a Gi dá a receita!
Para começar o dia, um bom bochecho com óleo de coco. Um vidro de óleo de coco sai mais ou menos o mesmo que minha compra semanal no supermercado, então por aqui já não rola. Alimentação, claro, só com vegetais orgânicos, de preferência da sua horta, nos fundos da sua mansão nas colinas. Uma vez tentei plantar rúcula na minha sacada e jamais brotou uma folhinha. Dois meses depois joguei fora e desisti de cultivar vegetais orgânicos. O consumo de carne deve ser reduzido a apenas duas vezes por mês e leite de vaca de jeito nenhum. Só de amêndoas.
Para cuidar da mente, muita respiração pranayama, meditação e ioga. Isso inclusive foi o que fez os ataques de pânico de Gisele desaparecerem. Então vamos lá, tente ficar sentada no chão com a mente vazia por meia hora. Não vale chorar lembrando do boleto do condomínio pendurado na geladeira e nem deixar que o barulho da descarga do apartamento ao lado interrompa esse momento de conexão com você mesma.
Depois de alimentar-se de maneira maravilhosamente saudável e de relaxar corpo e mente, é hora de trabalhar. Sim! Porque pessoas normais trabalham. A Gi trabalha em um ambiente super aconchegante e clean dentro do seu latifúndio. Fica o dia todo respondendo e-mails e falando por telefone com a sua empresária-irmã e com outros contatos de trabalho ou de seus projetos sociais. Inclusive, dirigir projetos sociais e investir grande parte da sua fortuna neles é ótimo para você se sentir bem consigo mesma e salvar o planeta ao mesmo tempo.
Conhecimento também é muito importante. Mas Gisele não está falando de estudar, fazer faculdade, mestrado, cursos, seminários na sua área profissional. O importante é ler. Ler sobre filosofia, existencialismo, espiritualidade, religião. Coisas que te fazem bem. Ela também nos ensina a escutar nossa voz interior. A dela é sábia, gentil e tem sempre razão, a minha diz “larga esse pote de doce leite e vai malhar esses braços gordos, sua preguiçosa inútil, tomara que exploda de tanto açúcar” ou “bem feito, tua vida tá assim porque tu tomou decisões erradas na vida, agora aguenta, trouxa”.
Para terminar, todo mundo sabe que ninguém é feliz sozinho. Isso também aprendemos com Gisele. Então se você está vivendo em NY, longe da sua família, além de conseguir um namorado tão rico e belo quanto você, o ideal é comprar uma cachorrinha de 3 mil dólares diretamente da vitrine de um pet shop. Compra agora já, mesmo que não tenha esse dinheiro. Coloca no cartão de crédito da sua mãe. Ela vai surtar, mas dentro uns anos, quando você for milionária, vocês vão rir disso tudo.
O livro é curtinho e a leitura bastante fluida e pode ser interessante se você adora saber um pouco sobre a vida dos ricos e famosos ou se conseguir incluir alguns dos aprendizados na sua vida de proletário latinoamericano.
Ps. Eu adoro a Gisele e chorei na parte que ela conta como morreu Vida, a cachorrinha de 3 mil dólares.
Eu veria o seriado "Juliete e as dicas de Gisele"
ResponderBorrarAlô produtores executivos
BorrarNão fosse o abismo que separa a vida de "proletário latinoamericano" e suas vicissitudes de uma top model...
ResponderBorrarSempre tive um preconceito em relação a autoajuda, palestras motivacionais, coach e afins, mas talvez uma certa dose de engodo ou mesmo de uma perspectiva mais suave das coisas seja interessante quando se é tão cético.
Preciso ser mais flexível como você.
Eu odeio autoajuda, jamais consideraria ler, mas como era um livro da "Dzél" e adoro uma bobajada de celebrities... Fora que era curtinho, não perdi muito tempo da minha vida, era tipo uma leitura de banheiro hahah
Borrar