– Tu escreve também?
Eu tinha entendido exatamente o teor daquela pergunta,
porque ele sabia que a receptora se tratava de uma jornalista que até pouco
tempo trabalhava em um jornal, fazendo o quê? Justamente escrevendo. Mas não era a isso que o rapaz se referia. Ele queria saber se eu tinha a mesma aptidão que
ele de sentar por horas a fio e digitar uma história mais ou menos fictícia inventada
na hora por minha mente inquieta.
Eu não sei como eu tenho coragem de responder que tenho uns
contos guardados, porque se em algum momento uma pessoa dessas me pedir para ler
algum deles eu vou ter um ataque de pânico. Prefiro que me vejam pelada,
chorando ou cagando a que leiam um dos meus contos.
E aí eu minto – e
narro isso em tempo presente porque não foi a primeira vez que um escritor
perguntou se eu também escrevo – que já tentei escrever uns romances, mas que a
história sempre acaba cedo demais e aí vira um conto. A parte de ter começado
um romance é verdade, mas ele não virou conto coisa nenhuma.
Ele não virou nada. Era ruim demais para ser um romance, era
ruim demais para ser um conto e provavelmente foi o arquivo dele que causou danos
no meu computador em 2014, porque ele era ruim demais até para ficar intocado dentro
da pasta Documentos.
Outro dia eu fui ouvir uma fala do Cristovão Tezza e saí de
lá com uma vontade louca de escrever um livro. Foi lindo o que ele disse sobre
o que provoca alguém a escrever: a tristeza. Gente feliz tá vivendo, tá fazendo
coisas legais, tá se divertindo, não vai se enfiar num quarto o dia inteiro para
escrever, ele disse. E me parece verdadeiro. Mas nem a tristeza tem o poder
fazer algo decente sair de dentro de mim.
Graças a deus a vontade de escrever o tal livro passou assim
que eu meti a chave na fechadura para entrar em casa. Eu sinceramente não
merecia outro motivo para envergonhar-me a mim mesma.
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