Tive dor de barriga
depois de comer chimichurri pela primeira vez. Conheci um argentino que fala
umas oito línguas e nunca saiu de seu país. Chorei. Reencontrei amigos. Fiquei bêbada à custa dos outros. Voltei
sozinha para casa um par de vezes de madrugada no combo 152 + pernada. Um terço
dessas vezes eu estava chorando. Bêbada, claro. Fui a dois shows da Tan Bionica.
Conheci um equatoriano, um irlandês, um paraguaio, um salvadorenho e uma colombiana.
Me apaixonei. Chorei de novo. Me perdi bêbada no meu próprio bairro, chorando.
Comi rim e intestino de vaca. Tomei uma garrafa e meia de vinho em uma noite.
Sofri por amor. Chorei. Passei vergonha no transporte público. Comi 200 gramas
de doce de leite em uma tarde. Li um
livro deitada na grama da praça. Li um livro em um café. Trabalhei montando e
pintando molduras. Aprendi a fazer pátina. Fui a uma universidade estudar rock.
Tomei Fernet. Tomei Gancia. Fiz brigadeiros para um argentino. Caminhei na
chuva pelas mansões de Belgrano R com um cara que parecia o Jack White. Dormi
bêbada no carro de um semi-desconhecido enquanto voltávamos de um show em outra
cidade. Andei de trem. Fiz minha 11ª tatuagem. Fui abordada por um rapaz
simpático no subte. Fui abordada por um rapaz simpático e bonito na parada de
ônibus. Fumei un porro andando pelas
ruas de Belgrano à noite. E na terraza
de um prédio de onde se via o trem passar. Andei por umas ruas estranhas em La
Boca. Foi a única vez que senti medo em Buenos Aires. Hospedei uma semi-desconhecida
em meu quarto. Fiz eye contact na
rua. No subte. No ônibus. No parque. No bar. De dia e de noite, porque tem
homem lindo em todos os lugares a todo instante. Fui chamada de bonbon,
preciosa, hermosa, divina, reina, espectacular. Me disseram “te quiero”. Conheci
um judeu. Ele me contou sobre seu bar mitzvah. Saí de casa sem nenhuma
maquiagem. Saí de casa vestida igual uma indigente. Tomei café da manhã e
almocei na rua com a roupa da noite anterior e a cara amassada. Aprendi
espanhol. Aprendi a separar amor de sexo. Aprendi que a solidão às vezes é uma
merda. Aprendi a cozinhar com o que tem na geladeira. Aprendi a dizer sim. Fui
chamada de desequilibrada e de pendeja de mierda. Conheci dois psicólogos que
disseram que eu sou normal. Tentei aprender a jogar xadrez. Tentei pintar um
quadro. Comi os melhores hambúrgueres da minha vida. Comi pomelo rojo. Li dois
livros em espanhol. Fui ao cinema ver um filme argentino. Conheci um monte de
bandas argentinas. Fui feliz. Fui triste. Senti saudade. Chorei de novo. Descobri
coisas sobre mim. Descobri coisas sobre o amor. Amei loucamente. Me apaixonei
por uma cidade. Prometi voltar para ficar.
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