A maior parte do mês de agosto foi para mim uma tortura
chinesa em que tudo o que apreciei de Buenos Aires era o que se podia ver da
janela do meu quarto. Enquanto chovia torrencialmente por semanas ininterruptas
eu começava a me dar conta de que possivelmente meu período na capital porteña
seria justamente aquele para qual eu vim preparada: seis meses. Não era
exatamente um plano, mas era mais ou menos o que eu, sem querer, tinha determinado
antes de sair do Brasil. Mas claro que quando eu cheguei aqui isso tudo foi
mudando. Como não querer passar anos ou o resto da vida nessa cidade?
Aconteceu o óbvio, a vontade de ficar mais tempo, muito mais
tempo, e comecei a arregaçar as mangas. De repente me pareceu algo totalmente
possível, porque para a minha surpresa, há um mercado para jornalistas com
português, ainda que minúsculo e restrito, mas se existe já é o bastante para
eu fechar os olhos e imaginar um futuro. Só que a coisa não acontecia,
e quanto mais eu chorava e esperneava, menos sucesso eu tinha em minha jornada
solitária. Enquanto eu passava o mês sofrendo o pavor de ver minhas chances de
ficar por aqui se acabarem, e, pior, enquanto eu desperdiçava tempo, finalmente
veio a aceitação.
Às vezes o universo tem alguns planos que são maiores do que
as nossas vontades e lutar contra isso por muito tempo é inútil de desgastante.
Quando passei a aceitar o que esse pelotudo queria, a ideia de voltar pro
Brasil já não parecia mais tão assustadora. Eu estava tendo uma experiência
incrível, estava vivendo tudo o que eu queria viver, mas meu “meio ano
sabático” teria fim, e pronto. Não é pra ser.
Quando o fim chegar terei coxinha, pastel, estrogonofe, bolo
de cenoura com cobertura de brigadeiro, minha família, alguns amigos, um imenso
aprendizado e muitas, muitas boas lembranças para o resto da vida. Um novo
começo.
Deveria ter algum projeto literario. Normalmente o que gente faz quando estamos assim é escrever, você não acha? A solidão para mim, é sinônimo de criação artística. Talvez algum projeto significativo para você. Já pelo menos você escreveu por aqui...
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