O rock dos hermanos
Los Gatos, Manal e Almendra são bandas que nem de longe soam
familiares ao mais roqueiro dos brasileiros, assim como tudo o que desde então
tem sido produzido musicalmente no mais hermano de nossos países fronteiriços.
E hoje me custa entender o porquê. Em
meados da década de 1960, as três foram responsáveis por idealizar na Argentina
os primeiros temas roqueiros em língua espanhola, e ao longo das últimas cinco
décadas fizeram escola para outro punhado de grupos que raríssimas vezes
conseguiram penetrar o sagrado solo brasileiro para mostrar sua cara.
Hoje, coincidentemente no Dia Mundial do Rock, completo dois
meses de incursão na cena argentina, especificamente em Buenos Aires, para onde
vim unir as duas das coisas que mais fazem sentido em minha vida: estudar
jornalismo de rock. E isso, claro, só seria possível na mais roqueira das
cidades latino-americanas.
Aqui os portenhos estão crentes que já sentem os sintomas do
que nós brasileiros passamos há muito tempo: a perda de espaço do rock’n’roll
para outros ritmos. O que o mantém vivo por esses lados é o mesmo fator que
ainda conserva sua chama no Brasil. A diferença é que há muito mais gente
disposta a não deixá-lo morrer. Gente abrindo bares de rock, gente montando
bandas, gente promovendo shows, gente que respira o rock ocupando emissoras de
rádio e televisão, redações de jornais e revistas, salas de universidades,
centros culturais públicos e privados, e fazendo a coisa acontecer.
Ainda é muito fácil ouvir rock em Buenos Aires, em qualquer
dia da semana em um dos incontáveis bares do gênero ou sintonizando em uma das
excelentes rádios que te brindam com um mix de Beatles, Rolling Stones,
Ramones, Gustavo Cerati e Foo Fighters em um mesmo bloco. Aqui você liga o
rádio e consegue ouvir o novo single
da banda de Noel Gallagher. E o novo do Jack White também.
A disponibilidade dos grandes veículos e das casas de shows,
da mais underground à superpopular, em receber o rock sem cara feia acaba
criando um ciclo vicioso. Novas bandas – e excelentes, diga-se de passagem –
continuam nascendo e os ídolos que já se foram jamais saem da memória. Receita
de sucesso que nós brasileiros já passamos da hora de reproduzir em casa.
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