segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Perdida

Incluso medio Lost in Translation, diría yo. Muchos idiomas, muchas formas de hablar, muchas formas de ser. No se entiende, no entiendo y no me entienden. No nos entendemos. Hacemos cosas que no tienen sentido. Para el otro. “Hay que buscarle el sentido”, pensaba. “Hay que hacer que empiece a tener sentido”, pensaba también. 

Tan simple como dos personas que eligieron estar juntas. Tan complejo como caminar de la mano en sentidos opuestos. Tan inútil como subir por la escalera mecánica que baja. 

Despertarse cada mañana intentando encontrar respuestas mientras el agua se deshace de las últimas células que quedaron en las fibras. ¿Era para ser así? ¿Era eso y nada más? ¿Qué se hace con lo no vivido, con lo que quedó por la mitad?

Gustavo decía que hay vacíos que no se pueden llenar, pero ¿qué más da, sino tratar de reformular el tetris en la pared? 

Hablando de vacíos, ¿alguien dijo algo sobre vaciar lo que está lleno? 

Hace frío y cuando te quitas la ropa te das cuenta de que te quedó una cicatriz, que no importa lo que hagas con ella, siempre que la mires te vas a acordar. De lo que fue. De lo que no fue. De lo que hiciste. De lo que te hicieron. De lo que no te hicieron. De lo dicho. De lo no dicho. De que nada es tan simple como podría ser. En verano será más evidente, entonces supongo que te acostumbrarás. 

Ese debe ser el secreto, acostumbrarse. Para algunos incluso conformarse. Pero acá no. Acá sabemos que lo poco no es suficiente. Acá cambiamos de casa, cambiamos de profesión, de color, de idea. Acá cambiamos de país, de ruta, de amor e incluso la forma de ver las cosas. Pero siempre queremos mucho. Porque somos mucho y ofrecemos aún más. 


terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Meus favoritos de 2024

Versión en español.

Antes tarde do que nunca, chegaram os tão esperados Metódica Empedernida Awards 2024. Este ano houve certa reviravolta em comparação com o ano passado enquanto a filmes e discos. O quesito séries continuou a mesmíssima paupérie, e, para piorar, ainda não tive tempo de terminar a segunda temporada de Squid Game que, por tanto, ficará de fora da lista. A questão é que este ano a safra de discos me pareceu excelente, ao contrário do ano passado. E também ao contrário do ano passado, a de filmes deixou bastante a desejar.


Enfim, aí vão algumas ideias de coisas para ouvir e ver ano que vem:


Meus discos favoritos de 2024:

1- Romance - Fontaines DC

2 - Brat - Charlie XCX

3 - Vicious Creature - Lauren Mayberry

4 - I Lay Down My Life For You - JPEGMAFIA

5 - Por Cesárea - Dillom 

6 - Ohio Players - The Black Keys

7 - Short n’Sweet - Sabrina Carpenter 

8 - Aura - Rei Brown 

9 - Charm - Clairo

10 - Radical Optimism - Dua Lipa



Meus filmes favoritos de 2024:

1 - Casa en flames

2 - Challengers

3 - We Live in time

4 - Blink Twice

5 - Snack Shack 

6 - Dìdi

7 - Mamífera

8 - A Different Man 

9 - The Room Next Door

10 - Anora



Minhas séries favoritas de 2024:

1 - Nobody Wants This

2 - Baby Reindeer

3 - Alice and Jack

4 - Cien años de Soledad

5 - One Day

6 - Hacks 3

7 - Curb Your Enthusiasm 12

8 - Monsters

9 - Heartstopper 3

10 - Unstable 2


sábado, 28 de dezembro de 2024

Um ano pode ser muito

Versión en español.

Querida eu, esta é você no seu 35º aniversário. 

Era 28 de dezembro de 2023, eu comia um chocolate remanescente do Natal, amolecido por aquele clima subsaariano, e só conseguia pensar se realmente sobreviveria até a última semana de fevereiro. O ar condicionado já quase não dava conta de manter fresco aquele diminuto quarto de hóspedes que recebia sol direto desde o meio-dia. Da janela, através dos losangos da rede de proteção que impedia a gata selvagem de se suicidar, eu podia ver os turistas carregando suas cadeiras, seus guarda-sóis, seus JBLs e seus coolers cheios de latas de Skol caminhando felizes em direção à praia Central. Eu sabia que eu estava ali só de passagem, mas era difícil não questionar que estupidez eu tinha feito com a minha vida naquele passado 10 de dezembro.

Se eu pudesse escrever um e-mail de dois parágrafos para minha eu de um ano atrás, reservaria uma frase para contar que deu tudo certo com a minha chegada a Barcelona e pularia imediatamente para dezembro de 2024. Porque se eu contasse que passaria meu aniversário número 35 em um hotel boutique com vista para as montanhas em um povoado medieval francês, e que no Natal comeria coisas que eu nem sabia que existiam a metros de um aquecedor, me daria a força necessária para continuar vivendo. 

2024 foi a loucura mais louca da minha vida, e olha que em 2015 eu já tinha largado meu trabalho, minha emergente carreira de jornalista e minha vida no Brasil para ir a Buenos Aires fazer não-sabia-bem-o-que. Mas cruzar o Atlântico pela primeira vez na vida para me instalar em uma cidade que escolhi quase ao azar é algo que considero um pouco mais ousado. 

Dando uma olhada na minha pequena lista de resoluções para este ano que termina, que constava de somente sete itens, percebo que pude cumprir apenas três. Longe de me sentir frustrada, achei graça do rumo que as coisas tomaram, porque mesmo que eu não tenha alcançado a maioria dos meus objetivos, acabei conquistando coisas que há um ano, quando escrevia a lista, eu nem sonhava que fosse querer conquistar. E outras que não sabia que precisava. Nem que experimentaria sensações e sentimentos completamente desconhecidos, e que compartilharia momentos com pessoas que eu tampouco esperava conhecer. 

Um ano pode ser muito e pode ser nada, depende do ponto de vista, mas uma coisa é certa: é tempo suficiente para que tudo, absolutamente tudo, mude.    


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Não tenho tempo

Versión en español.

Sério. E é a razão pela qual praticamente não estou escrevendo mais. Meu próximo post era para ser sobre a minha viagem para Madri, que faz, veja bem, quase dois meses. Agora já não tem mais sentido falar sobre Madri porque eu nem lembro mais como era Madri, nem como foi ter estaado em Madri. Lembro que a comida em quase todos os lugares era meio ruim, mas essa não pode ser a minha principal lembrança de Madri. 

Nos dias seguintes à viagem, cheguei a escrever uma parte do post na minha cabeça, mas infelizmente não é assim que as coisas funcionam, e enquanto a IA não puder transformar meus pensamentos em textos coerentes, não vai funcionar. Cerca de um mês depois da viagem, finalmente desisti.

Foi minha primeira viagem longa desde que estou em Barcelona e merecia algumas palavras, mas já era tarde demais. E eu continuava sem tempo. Então o próximo post poderia ser sobre Tarragona, pensei, uns dias antes da pequena escapada ao povoado histórico catalão. Entre contratempos com o trem (que não ia até Tarragona por obras nos trilhos, algo descoberto minutos antes de embarcar), chuva, passaporte esquecido e alerta massivo de temporal nos celulares, foi a cidade que mais gostei de visitar na Catalunha. E na Espanha. Mas eu continuava sem tempo para escrever a respeito. 

Agora já estamos com um pé em dezembro e eu não escrevi nada sobre coisa nenhuma e me sinto culpada, não apenas porque pago por este maldito domínio .com, mas porque gosto de escrever aqui. Porque daqui a alguns anos poderia ler outra vez o texto (que não existe) e rir sobre a comida dos restaurantes de Madri ser ruim e talvez sobre as combinações do metrô de lá levarem aproximadamente 15 minutos para serem concluídas. 

Então, como dizia, dezembro está dobrando a esquina e eu deveria escrever sobre como em uns dias vai fazer um ano que fui embora de Buenos Aires e que eu ainda penso naquele lugar todos os dias. E talvez sobre as coisas que eu mais sinto saudades de lá. Ou sobre as coisas que são melhores lá do que aqui, correndo o risco de que algum espanhol leia e descubra que Buenos Aires é a melhor cidade do mundo. 

E depois ainda teria que escrever sobre como pela primeira vez na minha vida, o meu aniversário, o Natal e o Ano Novo serão no inverno. COMO NOS FILMES. 

Daí lembro de todas às vezes em que me sentava com o computador nas pernas, encarando uma página em branco do Google Docs, morrendo de vontade de escrever e com tempo para isso, mas sem nenhuma ideia do que falar. 

Não lembro onde li que era muito mais fácil escrever quando tudo está uma bosta, que ou é isso, ou é deitar em posição fetal no quarto escuro, e acho que faz sentido. Porque eu não tenho tempo nem de deitar em posição fetal. Talvez 15 minutos antes de dormir.

Entre trabalhar como uma égua (uma égua freelancer, o que é pior, vocês sabem), ir à academia seis vezes por semana para manter a sanidade mental, as aulas de catalão (viu, nem essa eu tinha contado ainda) e as tarefas de catalão, minha pequena vida social e a afetiva e os vários livros que andei lendo, tive que escolher viver a escrever. Sim, uma loucura. De todos os modos, não devolverei a carteirinha.


sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Um pouco de normalidade

Versión en español.


Depois de sete meses lidando com a
the real expat Barcelona experience, finalmente decidi abandonar o Eixample, também conhecido como o centro nervoso de Barcelona, e viver como manda a catalã que habita em mim. Não, não me mudei para Vic nem para Tarragona. Ainda. Foram somente seis estações de metrô, no entanto, uma grande mudança, I have to say

De acordo com a minha percepção do que é Barcelona, diria que meu novo bairro, La Verneda i la Pau, não parece Barcelona. Quer dizer, não se parece com o Eixample e definitivamente não tem nada a ver com Gràcia, nem com o Gótico, nem com o Born e muito menos com o Raval ou a Barceloneta. As calçadas e ruas são largas, não tem prédios antigos, não tem a palavra tapas escrita em cada fachada, não tem um brunch em cada esquina, não tem turistas com malas, não tem turistas com malas fazendo filas nos brunchs em cada esquina. Inclusive me lembra um pouco a parte mais humilde de Belgrano antes da gentrificação, quando a gente tinha que ir até Palermo para beber um Gin Tonic. Isso quer dizer que talvez eu precise ir a outro bairro para beber um Gin Tonic? É bastante provável, não vou mentir. 

Como não é uma zona histórica, alguns prédios são um pouco mais altos, isto é, o meu prédio é um pouco mais alto, o que me permite ter uma bela vista do distrito de Sant Andreu e da região montanhosa de Barcelona, além de ter luz natural o dia inteiro. O-dia-inteiro. 

Sinto um pouco a falta daquele rebuliço? Nah. De estar a 5 minutos de absolutamente tudo? Disso sim. E de caminhar pela rua Concell de Cent. Mas sabe do que eu não sinto falta? De não saber se tem sol ou se está nublado. De escutar a novela chinesa da vizinha de baixo às onze e meia da noite. Ou da sua descarga sendo acionada setenta vezes por dia. Do cheiro de bacon frito entrando pela minha janela às 10 da manhã. E de esse ser justamente o cheiro menos horrível que entrava por ali. De ser constantemente quase atropelada por manadas de turistas vestidos iguais e com o mesmo corte de cabelo voltando do supermercado. De ter que desviar das instagrammers todo santo dia a caminho da minha ex-academia porque elas pre-ci-sam tirar foto na fachada de flores artificiais do Brunch It

Estou experimentando um pouco de normalidade. Paz. Tranquilidade. Ambiente familiar. Idosos. Idosos que caem no meio da rua (mais Belgrano impossível). Apenas os dois idiomas oficiais da região sendo falados nas ruas. Muitas pracinhas. Parquinhos infantis completamente vazios porque já quase não existem mais crianças. Poucas opções de lugares interessantes para ir. Sim, porque toda pessoa adulta a essa altura já sabe que ter a possibilidade de escolher entre muitas alternativas está supervalorizado. E se um dia eu quiser outra coisa… bom, são só seis estações de metrô. 


quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Nunca fiz amigos bebendo leite

Versión en español.

Apesar de não estar nem de longe tão ansiosa como no dia em que fui ao Meet Up de Language Exchange em abril, devo admitir que mandei para dentro uma tacinha de vinho branco antes de sair. Desta vez seria diferente. Eu não precisaria contar com a sorte de alguém querer se aproximar para falar comigo, nem de coragem para puxar conversa com um estranho. Desta vez não haveria outra opção. Seríamos obrigados a interagir. Eu estava praticamente indo para o Big Brother. 

Vi a publicidade do Timeleft enquanto procurava formas de fazer amizades em Barcelona. E a proposta me pareceu no mínimo curiosa. O negócio funciona assim: você se inscreve no aplicativo, paga o valor correspondente ao plano escolhido, responde a uma série de perguntas sobre sua personalidade, gostos e estilo de vida, e escolhe a data em que prefere jantar com cinco desconhecidos em um restaurante da cidade.  

O app se encarrega de fazer o match com outros inscritos, reserva a mesa no restaurante e tudo o que você precisa fazer é ir ao local combinado na hora marcada, perguntar pela sua mesa do Timeleft e voilà!, seus novos amigos estarão lá te esperando. Ou não, caso você seja o primeiro a chegar.  

Um dia antes do jantar, o app te manda informações básicas sobre seus futuros amigos: seus países de origem, signo, o setor em que trabalham e qual será o idioma principal falado naquela noite. E só.  

No meu caso, não seríamos seis pessoas no total, e sim sete. E o idioma principal seria o inglês, algo opcional ao configurar a conta. Decidi marcar inglês e espanhol com o singelo objetivo de aumentar minhas chances de conhecer alguém oriundo do canto mais remoto do planeta e, ao mesmo tempo, contar com a sorte de ter alguém da Argentina na mesa. Pois dito e feito. Meus futuros amigos eram da Espanha, Equador, Itália, Rússia, Islândia e, claro, Argentina.  

Cheguei ao restaurante às 21 em ponto.  

–  ¿Hola? Hi? –  é o primeiro que sai da minha boca enquanto encaro uma das meninas do grupo.  

–  ¿Español? –  ela me pergunta.  

–  ¡Sí! –  respondo, com o entusiasmo de uma adolescente no primeiro dia do ensino médio.  

A moça em questão se trava de Sofía que, para minha surpresa, era justamente a parcela argentina da mesa. Não porque ela não parecesse argentina, mas porque o mínimo que eu esperava de uma compatriota argentina era que ela chegasse 20 minutos atrasada. Quem fez isso, no entanto, foi Jon, o islandês. Não se fazem mais estereótipos como antigamente.  

O restante da mesa estava composto por Charo, do sul da Espanha, Fabio, o italiano que prefere falar inglês que espanhol, Sebastián, o equatoriano que sabe tudo o que tem para fazer em Barcelona, e Anna, a russa, culpada do idioma principal do jantar ser o inglês. E, claro, eu. A brasileira que fala argentino.  

Temos personalidades parecidas? Gostamos de ir aos mesmos lugares, fazer as mesmas coisas e ouvir a mesma música? Evidente que não. Mas gostamos de entornar o caneco e, para mim, é suficiente. Inclusive, dois dias depois, quatro de nós nos encontramos novamente em um bar de Gràcia.  


E esta é a foto do nosso grupo de WhatsApp:


sábado, 3 de agosto de 2024

Era uma vez dois verões

Leer versión en español.

Olha, longe de mim ter a audácia de reclamar de estar vivendo este verão com recordes históricos de calor na belíssima & suntuosa Barcelona, mas acho que tenho o direito de fazer algumas, digamos, observações. Sim, porque convenhamos que de verão, apesar de não simpatizar, eu entendo bem. Quem nasceu no sul do Brasil e morou quase uma década em Buenos Aires entende de verão pelo simples fato de quase ter morrido de calor (e de ódio) algumas dezenas de vezes. 

Dito isso, ainda tenho no currículo a experiência de ver vivido não apenas um, mas dois verões em 2024. O primeiro em Balneário Camboriú, entre dezembro e fevereiro, no qual tive a oportunidade de escutar minha mãe proferir não apenas uma, e talvez tampouco duas vezes, a frase “um calor assim fazia muito que eu não sentia”. E o segundo aqui e agora.

O que esses dois verões têm em comum? você deve estar se perguntando. Bom, além da minha ranzinza presença, eu diria que: recordes de temperatura. E eu acho que é só.

Em Barcelona, a vontade de tomar cianureto de café da manhã todos os dias do verão é um pouco menos evidente. Isso porque a umidade é bastante inferior. Eu acho engraçado. As pessoas daqui consideram o clima local bastante úmido. Para mim, depois de tantos verões em Buenos Aires, isso aqui é comparável a viver no meio do Saara. O verão com a umidade porteña não se explica, apenas se sente. E como se sente

No momento em que escrevo estas linhas, o aplicativo Weather Channel mostra que a umidade no ar em Barcelona é de 29%, algo completamente inimaginável em Buenos Aires. Lá, talvez você pudesse conseguir um ar tão seco dentro de um forno Whirlpool ligado em 180 graus. E isso, é claro, faz com que consequentemente a sensação térmica aqui não seja superior à temperatura real, que neste exato momento é de 34 graus. 

Outra curiosidade é como o sol nos afeta deste lado do Atlântico. Já nos primeiros dias do verão percebi que ele é muito mais ameno que no Brasil e na Argentina. A gente não sente a pele queimando. De algum modo, o sol não nos cozinha vivos às duas da tarde no centro. Compartilhando meu ponto de vista com argentinos que estiveram aqui nos últimos anos, descobri que não era coisa da minha cabeça. Eles sentiam o mesmo. Comprovei então monitorando a intensidade dos raios UV no Weather Channel: em nenhum momento das últimas semanas vi o índice UV chegar à categoria “Extremo”. Como era algo que eu também monitorava no Brasil para saber a partir de que horas era aceitável sair de casa sem protetor solar, eu me encontrava com a palavra “Extremo” praticamente todos os dias. 

Em Barcelona, inclusive o índice “Muito Alto” costuma durar poucas horas do dia, apesar de ter sol até às nove da noite. 

Nada disso, no entanto, nem o mediterrano azul, nem as sangrias, nem os tintos d’estiu, nem uma Voll-Damm estupidamente gelada são capazes de me fazer gostar desta estação nefasta. Estou contando os dias para o 21 de setembro.